As consequências da covid-19 sobre a saúde dos médicos brasileiros vão além dos sintomas dessa doença que já matou quase mil profissionais. Especialistas suspeitam que a pandemia também comprometeu a rotina de autocuidados da categoria, ou seja, essa é uma população que aumentou seu risco de adoecimento pela mudança em sua rotina de alimentação, repouso e prática de esportes. Esse retrato seria um dos efeitos adversos da pandemia.
Para medir o tamanho desse fenômeno, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) deu início a um levantamento para colher a impressão dos profissionais sobre este tema. Por e-mail e mensagens em grupos de discussão frequentados por médicos, os especialistas estão sendo convidados a participar.
Questionário – Em menos de cinco minutos, eles respondem a um questionário online que busca informações sobre a regularidade da prática de atividades físicas, o grau de consumo de álcool e a presença de comorbidades (como hipertensão, diabetes, problemas de coluna, entre outras) em seu histórico pessoal, entre outros pontos. Os dados estão sendo tratados com sigilo e anonimato.
Ao final, a SBACV espera ter dados que lhe permita desenvolver ações especificas para ajudar na recuperação do bem-estar dos profissionais. Julio Peclat, recém-empossado na Presidência da Sociedade, aposta que, com esta iniciativa, a entidade identificará pontos importantes para estimular os profissionais na adoção de comportamentos que fortaleçam sua saúde. Os resultados devem ser divulgados até julho.
Campanha – No entanto, antes mesmo desta fase, a SBACV já se antecipou e lançou também em fevereiro uma campanha nacional de combate ao sedentarismo entre médicos especialistas, estimulando-os a cuidarem mais de si mesmos e a servirem de exemplos para a população. A ação tem movimentado os perfis da entidade e de suas federadas nas redes sociais. Com mensagens objetivas, claras e positivas, a iniciativa pretende disseminar dicas entre os profissionais, despertando-os para inclusão do esporte e do lazer em suas rotinas.
Mais do que cards inspiradores, a intenção é provocar ações conjuntas. A primeira delas é o Fevereiro pela #saudevascular – um desafio a todos os angiologistas e cirurgiões vasculares brasileiros: publicar uma foto nos seus perfis nas redes sociais praticando exercício físico com a hashtag #desafiovascular. Quem participar deve marcar e desafiar outros dois colegas vasculares a fazerem o mesmo, além de marcar os perfis da SBACV e da sua regional.
Complicações – No Brasil, há cerca de 8 mil cirurgiões vasculares e angiologistas que têm atuado na linha de frente da pandemia. Eles respondem pelos cuidados de pacientes com complicações, como casos de trombose e de embolia, relacionados ao diagnóstico de covid-19. Segundo Julio Peclat, este trabalho tem deixado importantes aprendizados.
“A covid-19 se mostrou uma doença vascular que agride diretamente os vasos, levando à trombose, embolia pulmonar, amputações. Aprendemos, por exemplo, que os anticoagulantes, quando bem indicados, mudam o cenário da doença. Aprendemos que o corticoide é uma droga importante nesse tratamento. Aprendemos que a prevenção e o atendimento multidisciplinar são fundamentais e que, sem dúvida nenhuma, as vacinas vieram para nos proteger e trazer luz ao fim desse túnel”, concluiu.