No mês dedicado à prevenção e ao combate ao Diabetes, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) faz um alerta sobre a necessidade de acompanhamento multidisciplinar no tratamento da doença. De acordo com os especialistas da entidade, é preciso atenção redobrada para evitar que o chamado pé diabético se manifeste. Sem o atendimento devido, o problema pode causar a amputação de membros inferiores em quadros mais graves.
As infecções nos pés de pessoas diabéticas são de grandes preocupações, sobretudo, quando considerado o tamanho da população suscetível ao problema. Segundo o presidente da SBACV, Dr. Julio Peclat, “mais de 537 milhões de pessoas são acometidas pelo diabetes no mundo. No Brasil, há pelo menos 15 milhões de pessoas, com idades entre 20 e 79 anos, nessa condição. Considerado um grave problema de saúde pública, a doença pode trazer diferentes complicações vasculares e significativo impacto à qualidade de vida dos pacientes”.
O pé diabético está entre as manifestações mais evidentes dessa doença. “Um dos fatores determinantes para os problemas vasculares em pessoas diabéticas é a falta de atenção e cuidado com os pés, podendo acarretar feridas de difícil cicatrização e muito susceptíveis a infecção nesse tipo de paciente. Dessa forma, é muito importante ter um bom controle da glicemia, por meio de uma alimentação equilibrada, e de seguimento médico, além de cuidados redobrados para evitar feridas nos pés e/ou pernas”, ressalta o coordenador Nacional da Diretriz do Pé Diabético da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. Eliud Garcia.
Para evitar o surgimento de novos casos do problema, a SBACV faz algumas recomendações importantes. As dicas, que estão disponíveis no site da entidade e em suas redes sociais, chamam atenção para medidas simples que podem diminuir as chances de aparecimento do transtorno que, sem o devido cuidado, pode resultar na amputação do membro afetado.
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AMPUTAÇÕES – De acordo com levantamento realizado pela SBACV, mais de 245 mil brasileiros sofreram com a amputação de membros inferiores (pernas ou pés) entre janeiro de 2012 e março de 2022. Boa parte desses casos de amputações envolvem pessoas com diabetes. Além disso, a doença é a maior causa de insuficiência renal, junto com a hipertensão arterial; a maior causa de cegueira, junto com o glaucoma e retinopatia diabética; e a maior causa de amputações não traumáticas do mundo.
Esses, por si só, já são fatores de alerta para a prevenção e o tratamento das complicações do paciente com diabetes, que deve ter um acompanhamento multi e interdisciplinar, envolvendo equipe com endocrinologista ou médico clínico, cirurgião vascular, ortopedista, oftalmologista e nutrólogo, conforme ressaltam especialistas da SBACV.
“O tratamento do diabetes inclui, portanto, não só medicações para controle da glicemia, mas também a implementação de alimentação balanceada, pobre em alimentos industrializados, condimentados e com alto teor de açúcares de rápida absorção, além da realização de exercícios físicos regulares, de acordo com a capacidade do paciente”, realça Lorena Cerqueira, membro da Comissão Nacional de Diabetes e Pé Diabético da SBACV. Esses aspectos podem evitar não apenas o aparecimento do diabetes, como o de úlceras, trombose venosa profunda, infartos, AVCs, inchaços e dores.
Por outro lado, se o paciente desenvolve uma úlcera, o tratamento vai depender da causa dessa úlcera; das condições clínicas do paciente; do tamanho, da profundidade e do grau de dor ou infecção da ferida; e se há isquemia (falta de sangue no membro) associada. “Quer dizer: uma úlcera pequena, com pouca ou nenhuma infecção ou dor, pode ser tratada com curativos e tratamento local. Já uma úlcera extensa e infectada talvez precise de antibióticos, curativos, limpeza cirúrgica (desbridamentos), procedimentos para restaurar o fluxo de sangue ou até mesmo amputação”, assinala Lorena Cerqueira.
Dessa forma, ao se conscientizar dos cuidados com o pé, e atento a qualquer alteração nesse sentido, o paciente deve procurar o atendimento médico especializado para reduzir o surgimento de úlceras e, consequentemente, de amputações. “Um paciente que tem um acompanhamento regular com o médico vascular e segue as orientações, tem muito menos chances de desenvolver tromboses ou complicações do diabetes”, frisa Dr. Eliud Garcia.
DOENÇAS CARDIOVASCULARES – Além do pé diabético, essa doença (diabetes) pode ter outras consequências sobre a saúde vascular. O acometimento pode ser microvascular (olhos, rins, nervos periféricos, etc) e macrovascular (artérias importantes, como coronárias, carótidas e artérias do abdome ou das pernas). Segundo a literatura médica, a pessoa diabética tem quatro vezes mais chances de ter um infarto.
Isso ocorre porque o diabetes promove o enrigecimento e a obstrução precoce das paredes das artérias. Tal fato pode ocorrer nas artérias que irrigam os membros inferiores; nas carótidas, que irrigam o cérebro; ou nas coronárias, que irrigam o coração. Essas alterações, por sua vez, podem causar dificuldade de manutenção da circulação adequada, levando a consequências ao território acometido: amputações, acidentes vasculares cerebrais ou infrator, por exemplo”, explica Mateus Borges, diretor de Publicações da SBACV.
Segundo Borges, para diminuir as chances de desenvolver doenças cardiovasculares é preciso controlar o diabetes e os fatores que potencializam os danos causados. Por isso, os médicos recomendam a adoção de um estilo de vida saudável, com a prática de exercícios regulares; evitar o tabagismo; combater a obesidade; alimentar-se de forma balanceada; e fazer o acompanhamento médico regular.
Durante a consulta com o médico vascular são identificados os pacientes de maior risco. Por meio do exame físico, o profissional pode detectar rachaduras, deformidades, sinais de má circulação, e a presença de infecção. Exames de imagem como o ultrassom vascular podem ser realizados para um detalhamento do quadro e planejamento de um eventual procedimento necessário.
Confira abaixo a lista com os principais cuidados para prevenir o pé diabético, apontados por especialistas da SBACV:
1 – Não fazer compressas nos pés, nem quente, nem fria, nem gelada;
2 – Usar meia sem costura ou usá-la com a costura para fora (prefira usar meias claras para identificar se há alguma secreção);
3 – Não remover as cutículas das unhas dos pés;
4 – Não usar sandálias com tiras entre os dedos;
5 – Cortar as unhas retas e acertar os cantos com lixa de unhas;
6 – Hidratar bem os pés;
7 – Nunca andar descalço;
8 – Olhar sempre a planta do pé e tratar logo qualquer arranhão ou ferimento;
9 – Não usar sapatos apertados ou de bico fino;
10 – Tratar as calosidades com profissionais da saúde;
11 – Olhar o interior do sapato antes de usá-lo;
12 – Enxugar bem entre os dedos depois do banho.