Nesse período de férias e recessos de fim de ano, milhares de pessoas viajam para descansar ou visitar familiares e amigos. No entanto, nos deslocamentos, principalmente os mais longos, é preciso estar atento à saúde. A dica da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) vale para todos: não importa se o deslocamento é de carro, ônibus ou avião, e nem se a pessoa ocupa o lugar de passageiro, piloto ou motorista: é preciso entender os riscos da chamada trombose do viajante.
A origem da preocupação é uma só: como a pessoa em viagem passa muito tempo parada, sem movimentação, durante o percurso, ela fica vulnerável ao surgimento de trombose venosa profunda. Trata-se de uma formação de coágulo sanguíneo nas veias dos membros inferiores que obstrui a passagem de sangue e causa dor e inchaço na região. Esse problema ganhou até o apelido de trombose do viajante pela recorrência de registro em indivíduos com esse perfil.
Para evitar o surgimento de novos casos, a SBACV faz algumas recomendações importantes. As dicas, que estão disponíveis no site da entidade e em suas redes sociais, chamam a atenção para medidas simples que podem diminuir as chances de aparecimento do transtorno que, sem o devido cuidado, pode desencadear quadros clínicos mais graves, como a embolia pulmonar.
Clique aqui e acesse a cartilha publicada no perfil da SBACV no Instagram
“O sistema venoso precisa de bombeamento para fazer voltar o sangue para o coração. Se ficamos muito tempo parados, aumenta o risco desse fluxo ser comprometido. É importante considerar que pacientes com câncer, os obesos, os que fizeram cirurgia recente, gestantes e pessoas que fazem uso de anticoncepcional oral ou de terapia de reposição hormonal têm ainda maior risco de apresentar a tromboembolia venosa (TEV)”, afirma o cirurgião vascular e coordenador do subgrupo diretriz de tromboembolismo venoso (TEV) da SBACV, Marcone Lima Sobreira.
VIAGEM DE AVIÃO – Segundo ele, a soma dessas condições numa viagem de avião com duração de mais de seis horas, por exemplo, multiplica ainda mais a chance de um paciente com esse perfil manifestar um evento tromboembólico. Quem fica dentro de uma aeronave por esse tempo em deslocamento vê dobrar o risco de ter um episódio desse tipo em comparação com passageiros de voos mais curtos, afirma o especialista da Sociedade.
A SBACV destaca que a doença – também conhecida por Síndrome da Classe Econômica – ocorre com maior frequência nas viagens de avião. Nas aeronaves, fatores como assentos apertados e espaço curto para movimentar as pernas, aliados ao ar com menor quantidade de oxigênio e à baixa umidade, favorecem o espessamento do sangue e a formação de coágulos.
Caso o coágulo que formou dentro da perna se desprenda, a situação pode se agravar acarretando uma embolia pulmonar, que é a obstrução de vasos do pulmão. “Quando isso acontece, a depender do tamanho do coágulo e da condição do paciente, pode ser fatal”, ressalta Sobreira.
A SBACV explica em sua campanha que movimentar os pés (acelerando e desacelerando), fazer caminhadas pela aeronave para melhorar a circulação e se manter hidratado, já que a água afina o sangue e diminui o risco da formação de coágulos, são medidas que podem prevenir o aparecimento de trombos venosos. Também há a indicação de se sentar no corredor para facilitar a movimentação, usar meia elástica de média compressão e evitar o consumo de bebida alcoólica e café, além de medicamentos que estimulam o sono.
“Todos devem buscar a prevenção, mas a atenção deve ser redobrada por pessoas que possuem fatores individuais que agravam os riscos de desenvolver o quadro, como os obesos, fumantes, portadores de câncer, pessoas que utilizam anticoncepcionais orais, além de gestantes e pessoas acima de 60 anos de idade em voos prolongados”, frisa.
TRATAMENTO – O tratamento padrão da trombose venosa profunda é com uso de anticoagulante, uma medicação que “afina” o sangue e ajuda o organismo a dissolver o coágulo. Na opinião de Sobreira, “o tratamento intensivo, correto com anticoagulante adequado e controle rigoroso, favorece a dissolução desse coágulo pelo organismo, assim como promove uma melhora do desconforto. Esse tratamento pode ser feito com paciente internado ou ambulatorial, a partir da avaliação médica”.
No entanto, segundo ele, não há evidências de que o uso de anticoagulante antes da viagem reduza o risco da trombose venosa profunda. “Sabemos que esse tipo de medicamento diminui as chances de formação de coágulo, mas carregam consigo um risco aumentado de sangramento, levando em conta que em altas altitudes, como é o caso de voos em que a pressão atmosférica é reduzida, há chance de sangramentos graves”, salienta.
O especialista reforça, ainda, que é importante consultar o angiologista e o cirurgião vascular, especialmente em casos de dor, desconforto e edema, a fim de identificar o problema o mais rápido possível. “Se o paciente teve um desconforto ou inchaço diferente na perna, ocorrido entre duas e quatro semanas após o voo, ele deve procurar um cirurgião vascular ou angiologista. Esses profissionais são habilitados a fazer o exame e a suspeita diagnóstica da trombose, que devem ser acontecer o mais cedo possível. A partir disso, o profissional irá instituir o tratamento mais correto para diminuir as chances de o paciente ter complicações graves”, sublinhou.
Confira abaixo a lista com os oito principais cuidados para prevenir a trombose do viajante, apontados por especialistas da SBACV:
1 – Usar meias de compressão durante o voo;
2 – Utilizar roupas confortáveis, evitando vestimentas apertadas que dificultem o retorno venoso;
3 – Evitar ficar longos períodos sem se movimentar;
4 – Levantar e realizar pequenas caminhadas durante o voo;
5 – Movimentar ativamente os pés e panturrilhas enquanto estiver sentado (a);
6 – Beber bastante líquido (água e sucos);
7 – Evitar bebidas alcoólicas durante o voo;
8 – Evitar medicações sedativas que dificultem o passageiro de se levantar ou se movimentar.